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a casa amarela

VAN GOGH E A CASA AMARELA

Ela ficava na Place Lamartine, em Arles. Era um sobrado charmoso escolhido por Vincent comprado em 1888 com o dinheiro da herança deixada pelo tio Cent, abastado negociante de arte, para se tornar um ateliê coletivo. Na verdade, era um recomeço. Talvez por isso o pintor tenha escolhido para sua fachada a cor que simboliza o valor e os sentimentos mais elevados: o amarelo.

Dentre tantos convites distribuídos, apenas Paul Gauguin respondeu. Foi morar sob o mesmo teto que Van Gogh, mas logo percebeu que a situação não duraria. Em carta para Theo, o francês reconhecia: “Vincent e eu não podemos simplesmente viver juntos em paz, devido à incompatibilidade de temperamentos”. Foi embora levando consigo a esperança do colega, que, logo em seguida, cortou a orelha num ato desesperado que traduzia a forte carga emotiva já conhecida em suas obras.

O local, bombardeado durante a guerra e demolido posteriormente, foi imortalizado neste belo quadro, em um desenho feito a pena e tinta e em uma aquarela. 

O Ano era 1999. Pouco depois da primeira década como pintor profissional, imerso no mito de Van Gogh, dificuldades mil estourando em minha vida.  A tarefa de sobrevivência mental era pintar, não deixar que minha cabeça ficasse remoendo tudo o que eu não compreendia. Da pintura vinha o dinheiro com o qual, junto com minha esposa, sustentava a casa. Estava lendo a biografia De Van Gogh e me deparei com a reprodução do quadro “A Casa Amarela”. No livro havia um relato superficial dos acontecimentos vividos na casa. Pesquisei um pouco mais e senti necessidade de trabalhar algo a partir desse quadro. O ponto de partida foi pintar uma cópia do quadro original e, do segundo em diante, foi embarcar numa viagem na qual o universo do artista e o meu se misturaram (de forma inconsciente eu estava expurgando o mito de dentro de mim).

Produzi durante três anos e, mesmo que pintasse outros temas, voltava compulsivamente para “A Casa Amarela”. Ao final, foram mais de 30 telas.
Salto então para o ano de 2003, quando já havia produzido a maioria dos mais de 30 quadros. Uma noite jantando com minha esposa, olhei para uma geladeira do restaurante, e notei que a data de fundação da cervejaria da propaganda era 1853, o ano de nascimento de Van Gogh. Naquele ano de 2003, fazia então 150 anos do nascimento do pintor. Naquele momento, decidi internamente que iria expor os quadros sem nem saber onde, já que praticamente não havia mostrado a série para ninguém, mas minha certeza era total.

Finalizando, nesse mesmo ano expus na Galeria de Arte Segundo Jardim a mostra “A casa Amarela”. Uma exposição de cores e desenhos fortes, o que foi uma homenagem ao mestre.